sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Meu nome é James Holmes, mas podem me chamar de O Coringa.

Frei Betto Escritor e assessor de movimentos sociais Adital Meu nome é James Holmes, mas podem me chamar de O Coringa. Tenho 24 anos. Sou o Cavaleiro que Ressurge das Trevas. Quando menos se esperava, a plateia atenta às aventuras de Batman viu irromper, na escuridão, a cena real de sangue e ódio. Eu, O Coringa, faço a diferença. Meu avô morreu na guerra do Vietnã. Era especialista em enterrar minas nas trilhas dos arrozais por onde trafegavam camponeses. Meu tio garante que, graças à habilidade de meu avô, mais de 500 vietnamitas tiveram seus corpos destroçados por minas. Há uma foto, no arsenal do meu pai, na qual se vê pedaços do corpo de um vietnamita voando pelos ares. Meu avô teve azar. Ao se agachar numa estrada para cavar o chão e enterrar uma mina, caiu numa armadilha de espetos de bambu. Um buraco de dois metros de altura. Seu corpo foi resgatado por nossos helicópteros. Meu tio contou 18 perfurações. Meu avô mereceu honras militares em seu enterro em Denver. Meu pai lutou no Iraque contra os terroristas de Saddam Hussein e Bin Laden. Teve a sorte de regressar vivo. Trouxe para casa um verdadeiro arsenal de guerra, dando início à sua espantosa coleção de armas. Todas legais, como outras 242 milhões que circulam pelos EUA. Desde criança aprendi que um verdadeiro ianque não teme matar. E sabe dar o tiro certo. Na infância, eu me divertia com videogames de jogos bélicos. Cheguei a vencer o campeonato de eliminação sumária de bonequinhos virtuais. Derrubei 42 em menos de 1 minuto. Meu irmão se encontra incorporado às nossas tropas no Afeganistão. Fiquei muito frustrado por não ter sido o escolhido. Tentei negociar com a Marinha e ir no lugar dele. Seria uma curtição matar terroristas e seus cúmplices talibãs. Quando contei ao meu professor que pertencia a uma família de guerreiros, e que matar uma pessoa com certeza proporcionaria mais prazer do que sexo, ele sugeriu que eu fizesse terapia. Fiz melhor: fui estudar neurociência para entender a mente humana. Buscar respostas a perguntas que ainda hoje me inquietam. Por que há quem se sinta culpado por matar uma pessoa, enquanto políticos, como o presidente Truman, que atirou bombas atômicas sobre Hiroshima e Nagasaki, morrem com a consciência tranquila? Meu nome é James, como James Bond. Dei-me licença para matar. Acusam-me de ser tímido, reservado, recluso, e até repulsivo. Na verdade, eu quis experimentar, naquela noite de 20 de julho, a mesma volúpia de Charles Whitman, que em agosto de 1966 fuzilou 16 pessoas na Universidade do Texas; de James Hubert, que em 1984 matou 21 numa lanchonete da Califórnia; de Pat Sherrill, que em 1986 exterminou 14 numa agência dos correios de Oklahoma; de James Pough, que tirou a vida de 9 funcionários da General Motors, na Flórida, em junho de 1990; de George Hernnard, que numa cafeteria do Texas eliminou 23 pessoas, em outubro de 1991; de John Muhammad e Lee Malvo, que com seus rifles abateram 10 em outubro de 2002, em Washington D.C.; de Cho Seung-Hui, que em abril de 2007 exterminou 33 estudantes e professores na Universidade de Virgínia Tech. Não sou assassino. Assassinato é quando se mata um, no máximo dois. Chacina, meia dúzia. Extermínio, uma dezena. Massacre, centenas. Guerra, milhares. Sou um exterminador do presente. Meu sonho é a guerra. É legal, faz dos matadores heróis, move a indústria. Este é mais um genuíno produto de exportação made in USA: a guerra. Protegida pelas mais solenes convenções. Vivo num país livre, onde se podem adquirir armas como quem compra pães na esquina. Não tive a menor dificuldade de obter dois revólveres Glock calibre 40; uma espingarda Remington 870; um fuzil Smith & Wesson AR-15, e ainda 16 mil cartuchos, comprados pela internet. As doze pessoas que exterminei no cine de Aurora ainda não foram suficientes para saciar a minha fome de prazer. Porém, de uma coisa estou certo: naquela noite, eu desafiei e venci o Batman. [Frei Betto é escritor, autor de "A obra do Artista – uma visão holística do Universo” (José Olympio), entre outros livros. www.freibetto.org Twitter:@freibetto. Copyright 2012 – FREI BETTO – Não é permitida a reprodução deste artigo em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização do autor. Se desejar, faça uma assinatura de todos os artigos do escritor. Contato – MHPAL – Agência Literária (mhpal@terra.com.br)].

sexta-feira, 1 de junho de 2012

O MELHOR AMIGO

José Antonio Pagola. Tradução: Antonio Manuel Álvarez Pérez No núcleo da fé cristã em Deus trinitário há uma afirmação essencial. Deus não é um ser tenebroso e impenetrável, encerrado egoistamente em si mesmo. Deus é Amor e só Amor. Nós, cristãos, acreditamos que no mistério último da realidade, dando sentido e consistência a tudo, não há senão Amor. Jesus não escreveu nenhum tratado acerca de Deus. Em nenhum momento o encontramos expondo aos camponeses da Galileia doutrina sobre Ele. Para Jesus, Deus não é um conceito, uma bela teoria, uma definição sublime. Deus é o melhor Amigo do ser humano. Os investigadores não duvidam de um dado que recolhem dos evangelhos. As pessoas que escutavam Jesus falar de Deus e o viam atuar em Seu nome, experimentavam Deus como uma Boa Nova. O que Jesus diz de Deus lhes ressoa como algo de novo e bom. A experiência que comunica e contagia parece-lhes a melhor notícia que podem escutar de Deus. Por qué? Talvez a primeira coisa que captam é que Deus é de todos, não só dos que se sentem dignos para apresentar-se diante dEle no templo. Deus não está preso a um lugar sagrado. Não pertence a uma religião. Não é propriedade dos piedosos que peregrinam a Jerusalém. Segundo Jesus, "faz nascer o Sol sobre bons e maus". Deus não exclui nem discrimina ninguém. Jesus convida todos a confiar Nele: "Quando oreis dizei: Pai!". Com Jesus vão descobrindo que Deus não é só dos que se aproximam Dele carregados de méritos. Mais que a eles, escuta a quem lhe pede compaixão por sentirem-se pecadores sem remédio. Segundo Jesus, Deus anda sempre procurando os que vivem perdidos. Por isso se sente tão amigo de pecadores. Por isso lhes diz que Ele "veio procurar e salvar o que estava perdido". Também se dão conta de que Deus não é só dos sábios e entendidos. Jesus agradece ao Pai porque gosta de revelar aos pequenos coisas que estão ocultas aos ilustrados. Deus tem menos problemas para entender-se com o povo simples do que com os doutos que acreditam saber tudo. Mas foi, sem dúvida, a vida de Jesus, doada em nome de Deus, a aliviar o sofrimento dos doentes, libertar os possuídos por espíritos malignos, resgatar leprosos da marginação, oferecer o perdão a pecadores e prostitutas..., que os convenceu de que Jesus experimentava Deus como o melhor Amigo do ser humano, que só procura o nosso bem e só se opõem ao que nos faz mal. Os seguidores de Jesus nunca puseram em dúvida que o Deus encarnado e revelado em Jesus é Amor e só Amor para todos.

domingo, 27 de maio de 2012

PENTECOSTES: Como minha avó a soprar brasas

O que o grupo seguidor de Jesus estava celebrando? Pentecostes, em Israel, era a festa que marcava o final da colheita dos cereais. Era uma festa agrária, na qual se louvava a Deus pelos primeiros frutos da terra em cada ano. O povo judeu a chamava e ainda a chama de Shavuot, Festa das Semanas, por ser celebrada no primeiro dia, depois de transcorridas sete semanas desde a Páscoa. Por isso o nome grego Pentecostes - qüinquagésimo dia (Dt 16,9-10). Mais tarde, as comunidades judaicas associaram a festa agrária com uma data também histórica, recordando, nesse dia, a entrega das tábuas do Decálogo no Monte Sinai (Ex 19-20). Como o texto de At 2 foi escrito pelo menos 50 anos depois, já houve tempo para que as comunidades e o redator final elaborassem uma narrativa muito mais cheia de sentido simbólico, que nos ajuda ainda hoje em nossa leitura e em nossa caminhada de fé. Anunciando a chegada do Espírito Santo na festa da antiga lei, estão a nos dizer que a nova aliança é agora selada com o próprio sopro divino. (O pentecostes, disponível em www.jesusmafa.com) Sobre quem pousa o Espírito Santo? Há várias maneiras de se ler o texto de At 2. Bastante comum entre nós é um tipo de leitura que quase dispensa o próprio texto bíblico. Trata-se da leitura feita a partir dos quadros artísticos, nos quais vemos línguas de fogo pousando sobre o grupo dos Doze, quase sempre tendo Maria ao centro, fechados em uma sala bastante luxuosa. Por mais que respeitemos essa leitura, é importante que digamos que a mesma não corresponde à narrativa bíblica: "tendo-se completado o dia de Pentecostes, estavam todos reunidos no mesmo lugar (At 2,1). "Todos quem?", devemos nos perguntar. Pouco antes, podemos ler que "o número das pessoas reunidas era de mais ou menos cento e vinte" (At 1,15). Tendo em vista que não houve nenhuma indicação de mudança de grupo, é evidente que o "todos" do texto imediatamente seguinte refere-se a esse grupo de cento e vinte pessoas. Ou seja, o Espírito Santo é derramado sobre todas as pessoas da Igreja nascente (o número é rico em simbologia) e não apenas sobre algumas de suas lideranças. Não é por acaso que o relato evoca as palavras do profeta Joel: "Derramarei o meu espírito sobre todas as pessoas (literalmente: sobre toda carne), vossos filhos e vossas filhas profetizarão" (Jl 3,1; At 2,17). Esta lembrança é de importância fundamental, pois significa a reafirmação de um princípio óbvio de nossa fé: ninguém pode se apossar do Espírito Santo. Um espírito que se manifesta na casa e não no templo! Outro aspecto a ser observado tem a ver com o local da manifestação do Espírito divino. O texto inicia dizendo que "estavam todos reunidos no mesmo lugar". Que lugar seria esse? O texto grego fala de "mesmo lugar". Traduções mais antigas gostavam de usar a palavra "cenáculo", que literalmente significa "o lugar onde a gente janta", faz a ceia - a cena. Traduziam assim provavelmente por dedução a partir do último lugar especificamente citado: a "sala superior" para onde o grupo havia voltado e onde costumava ficar (At 1,13). Logo em seguida, entretanto, fala-se da reunião dos "quase cento e vinte irmãos", na qual se procede à escolha de Matias no lugar de Judas Iscariotes (At 1,15-26). E do ruído, que, como o agitar do vento, enche toda a casa onde se encontravam (At 2,2). Muita gente quis interpretar que se tratava de um lugar muito grande para reunir tanta gente. O mais importante, porém, não é discutir o tamanho do lugar, visto que a cultura judaica chama de casa o espaço do clã (como em culturas africanas e indígenas, a casa verdadeira é a sombra das árvores, o quintal, onde a vida acontece). O que precisamos considerar é que, por mais que o Livro dos Atos valorize o templo (cf. At 2,46), é no espaço da casa que o Espírito se manifesta. A casa é o espaço aberto, enquanto o templo se fechava às mulheres, aos estrangeiros, aos "impuros". A casa é o lugar da acolhida e, ao mesmo tempo, da partilha: o lugar da ceia comum (Lc 24,13-35). Assim como o pão se reparte, também o Espírito se reparte a todas as pessoas da casa. E se no templo, apenas os homens querem ter poder, na casa, é comum que este poder se exerça de forma também mais partilhada. Como podemos ler, ali "todos eles se reuniam sempre em oração, com as mulheres, entre as quais Maria, a mãe de Jesus, e os irmãos dele" (At 1,14). Como minha avó a soprar as brasas Muitas imagens são evocadas no texto, a maioria delas buscada no Primeiro Testamento. Além da casa e do número 12 X 10, é expressiva a imagem do vento, das línguas e do fogo. O vento lembra o sopro de Deus que abriu o Mar (Ex 14,21). As línguas lembram Babel (Gn 11,1-9), onde Deus também prefere a diversidade das línguas. Também agora, cada pessoa ouve as maravilhas de Deus na sua própria língua (At 2,11). O fogo lembra a sarça ardente (Ex 3,1-10), lembra a coluna de nuvem (Ex 13,21). E toda a cena lembra especialmente a conclusão da Aliança no Sinai (Ex 19,16-19). Mas o vento e o fogo também lembram minha avó, enchendo suas simpáticas bochechas para acender fogo na fornalha ou no fogão de lenha, tarefa que exigia cuidado e, ao mesmo, tempo expressa exercício de poder. Essa é a imagem que faço de Pentecostes: a divindade, com suas grandes bochechas, a soprar em nossas brasas, quando querem se apagar. Às vezes, uma brisa leve (a Ruah divina) é suficiente para que nossas brasas se acendam. Outras vezes, faz-se necessário um sopro bem mais forte, ventania até, para que sejamos sacudidas e sacudidos em nossa inércia! Que neste Pentecostes, possam as bochechas divinas nos despertar de nossa acomodação, especialmente aquela que nos deixa inertes em nossos templos, em nossos cultos e nossas missas! Que possamos louvar o Espírito lá onde ele se manifestou primeiro, no cotidiano das pessoas, em suas próprias casas. Mas especialmente na vida das pessoas empobrecidas cujo espaço muitas vezes nem mesmo podemos chamar de casas. Pois é para isso que o mesmo Espírito de Pentecostes nos conclama: "O Espírito do Senhor está sobre mim, ele me ungiu para levar uma notícia alegre aos pobres" (Is 61,1; Lc 4,18). Edmilson Schinelo (schinelo@terra.com.br)

sábado, 7 de abril de 2012


Creio na Ressurreição do Corpo - Rubem Alves

"Os cristãos incluíram uma declaração estranha no seu Credo.
Diziam que criam e desejavam a ressurreição do corpo.
Como se o corpo fosse a única coisa que importasse...
Mas haverá coisa que importe mais?
Haverá coisa mais bela?
Ele é como um jardim, onde crescem flores e frutos...
Cresce o riso,
a generosidade,
a compaixão,
o desejo de lutar,
a esperança;
a vontade de plantar jardins,
de gerar filhos,
de dar as mãos e passear,
de conhecer...
E ele transborda as águas que vão subindo, e elas saem dele, e o deserto seco vira oásis regado. é assim: neste corpo tão pequeno, tão efêmero, vive um universo inteiro, e, se ele pudesse, bem que daria a sua vida pela vida do mundo.
Mas o corpo não é só fonte que transborda: é colo que acolhe.
O ouvido que ouve o lamento, em silêncio, sem nada dizer...
A mão que segura a outra...
O poema, que é a magia que transubstancia o mundo, colocando nele coisas invisíveis, só reveladas pela palavra...
A capacidade de ouvir as lágrimas de alguém, longe, nunca visto, e chorar também...
O meu corpo transborda e fertiliza o mundo...
Tão simples, tão belo. Mas algo estranho aconteceu.
Algo nos tentou, e começamos a buscar Deus em lugares perversos.
Pensamos encontrar Deus onde o corpo termina: e o fizemos sofrer e o transformamos em besta de carga, em cumpridor de ordens, em máquina para o trabalho, em inimigo a ser silenciado, e assim o perseguimos, ao ponto do elogio da morte como caminho para Deus, como se Deus preferisse o cheiro dos sepulcros às delícias do Paraíso.
E ficamos cruéis, violentos, permitimos a exploração e a guerra. Pois se Deus se encontra para além do corpo, então tudo pode ser feito ao corpo.
Escrevi estas coisas como celebrações da ressurreição.
Na esperança da ressurreição dos mortos.
Para exorcizar a morte, que nós mesmos alimentamos com nossa carne.
Invocações de alegria e beleza.
Quem tem alegria e ama a beleza luta melhor.
Os corpos ressuscitados são guerreiros mais belos porque trazem nas suas mãos as cores do arco-íris.
E os corpos se transformam então em semente que engravida a terra para que nasça o futuro...

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

A Passagem de Deus pela América Latina

Jon Sobrino – IHU, 27 de fevereiro de 2012

“Como será a passagem de Deus pela América Latina e com quem passará, está por se ver, e em suma é coisa de Deus. Mas é coisa nossa desejá-la, trabalhar para isso, e aprender de como aconteceu no passado em torno de Medellín”, escreve Jon Sobrino, em artigo publicado no sítio espanhol Eclesalia, 23-02-2012. A tradução é do Cepat.
Jon Sobrinoé teólogo espanhol radicado em El Salvador, sobrevivente da chacina que, em novembro de 1989, dizimou a vida de seis jesuítas e duas funcionárias da Universidade Centro-Americana (UCA). É autor de vários livros, entre os quais, Fora dos pobres não há salvação (Paulinas, 2008), Cristologia a partir da América Latina (Vozes, 1983); Jesus, o Libertador: a história de Jesus de Nazaré (Vozes, 1994).
Eis o artigo.
Os dez anos que se passaram entre Medellín(1968) e Puebla(1979) foram únicos na época moderna da Igreja católica na América Latina. Depois começou um declive ao qual Aparecida (2007) quis colocar um freio, embora até agora reste muito a ser feito.
Ao fazer este juízo, não nos fixamos na Igreja assim como é analisada pelos sociólogos, mas na “passagem de Deus”. Sem dúvida, é mais difícil calibrar, mas toca a dimensão mais profunda da Igreja, e a serviço de que deve estar. Em suma, qual a sua contribuição para os seres humanos e para o mundo como um todo. E, obviamente, é preciso se perguntar “que Deus” é que passa pela história em um dado momento.
Medellín
Foi um salto qualitativo. Irromperam os pobres, e neles irrompeu Deus. Foi um fato fundante que penetrou na fé de muitos e configurou a Igreja.
Surpreendentemente, para a assembleia dos bispos a prioridade não era a Igreja em si mesma, mas o mundo de pobres e vítimas, isto é, a criação de Deus. Suas primeiras palavras proclamam a realidade do continente: “uma pobreza em massa fruto da injustiça”. Os bispos agiram, sobretudo, como seres humanos, e deixaram falar a realidade que clamava ao céu. São os clamores que Deus escutou no êxodo que o fizeram sair de si mesmo e entrar decididamente na história. De igual modo, com Medellín Deus entrou na história latino-americana.
A partir desta irrupção dos pobres, e de Deus neles, Medellínpensou o que é ser Igreja, qual é a sua identidade e missão fundamental, e qual deve ser seu modo de estar em um mundo de pobres. A resposta foi “uma Igreja dos pobres”, semelhante à ilusão que teve João XXIII e o cardeal Lercaro. No Concílionão prosperou, em Medellín sim. A Igreja sentiu compaixão pelos oprimidos e decidiu trabalhar por sua libertação. Por muitos, com maior ou menor consciência explícita, foi acolhida como bênção. Por outros, foi percebida, com razão, como grave perigo.
Cedo o poder reagiu. Em 1968, Nelson Rockefeller escreveu um relatório sobre o que estava acontecendo, e essa Igreja, nova e perigosa, tinha que ser fragilizada e freada, e o mesmo aconteceu no início da Administração Reagan. Oligarquias com o capital, exércitos, esquadrões da morte, desencadearam uma perseguição contra a Igreja, desconhecida na história da América Latina. A perseguição, e o manter-se firme nela, deixou claro o novo e evangélico que estava acontecendo: a Igreja de Medellín estava com o povo pobre e perseguido, e correu sua própria sorte. Milhares foram assassinados, entre eles meia dúzia de bispos, dezenas de sacerdotes, religiosos e religiosas, e uma multidão de leigos, mulheres e homens. Com limitações, erros e pecados, era uma Igreja muito mais casta que meretriz, muito mais evangélica que mundana.
Na Igreja católica, Paulo VI propiciou e animou esta nova Igreja, mas altos personagens da cúria romana, e de outras cúrias locais, a desqualificaram, trataram mal e injustamente os seus representantes, inclusive bispos, e construíram uma Igreja alternativa, diferente e mesmo contrária, mais devocional, intimista, de movimentos, submissos aos defensores da hierarquia. E o que havia que evitar era que a Igreja voltasse a entrar em conflito com os poderosos. A Igreja popular, nascida em torno de Medellín, crente e lúcida, de comunidades de base, que vivia a pobreza do continente, sofreu a dupla perseguição do mundo opressor, e, com alguma frequência, da própria Igreja.
Uma Igreja assim foi testemunha e seguidora de Jesus de Nazaré. Encarnada, defensora e companheira dos pobres, carregava a cruz e com frequência morria nela. Anunciou uma Boa Nova como Jesus na sinagoga de Nazaré. Teve seus “doze apóstolos”, os Padres da Igreja latino-americanacom dom Hélder Câmaraum dos pioneiros, com Enrique Angelelli, dom Sergio Mendez Arceo, Leonidas Proaño, com dom Romero, pastor e mártir do continente, e outros. Chegou a ser ekklesia, na qual mulheres e varões, religiosas e leigos, latino-americanos e vindos de fora, chegaram a formar corpo eclesial, uma grande comunidade de vida e missão. Entre os de casa e os de longe se gerou uma solidariedade nunca vista: se fortaleciam mutuamente. Cresceu a esperança e a alegria. E do amor dos mártires nasceu uma brisa de ressurreição, alheia a toda alienação, que remetia novamente à história para viver nela como ressuscitados.
Nessa Igreja soprava o Espírito, o espírito de Jesus e o espírito dos pobres. Esse espírito inspirava oração, liturgia, música, arte. E também inspirava homilias proféticas, cartas pastorais lúcidas, textos teológicos de casa, não textos simplesmente importados que não passaram pelo crisol de Medellín.
No centro de tudo estava o evangelho de Jesus. Lucas 4, 16: “Eu vim para anunciar a boa nova aos pobres, para libertar os presos”. Mateus 25, 36-41: “Tive fome e destes de comer”. João 15, 13: “Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida pelos irmãos”. E Jesus de Nazaré, o crucificado ressuscitado, Atos dos Apóstolos 2, 23-24: “Aquele que vocês mataram Deus o devolveu à vida”.
E agora?
Pesquisas, estudos sociológicos e antropológicos, econômicos e políticos, oferecem dados e explicações sobre a Igreja católica e outras Igrejas cristãs. Dizem-nos se aumentamos ou diminuímos em número e em influxo na sociedade. Desde essa perspectiva nada tenho a acrescentar. E estritamente falando, também não é a minha maior preocupação qual será o futuro do que chamamos “Igreja”, embora nela tenha vivido e vivo, e me acostumei a pertencer à família.
O que me interessa, e me alegra, é que “Deus passe por este mundo”. E a razão é simples. O mundo está “gravemente enfermo”, dizia Ellacuría, “enfermo de morte”, disse Jean Ziegler. Isto é, necessita de salvação e cura. Por isso, como crente e como ser humano, desejo que “Deus passe por este mundo”, pois essa passagem sempre traz salvação às pessoas e ao mundo em seu conjunto. Tivemos a sorte de sentir essa passagem de Deus com Medellín, com dom Romero, com muitas comunidades populares. Com muitas pessoas boas, simples em sua maioria. Com uma plêiade de mártires. E também, embora isso só se possa sentir “em um difícil ato de fé”, como dizia Ellacuría ao explicar a salvação trazida pelo servo sofredor de Isaías, com o povo crucificado.
Como estamos atualmente?
Seria cometer um grave erro cair em simplismos em coisas tão sérias. Seria injusto não ver o bom que, de muitas formas, existe nas Igrejas. E seria arrogante não tentar descobri-lo, embora às vezes se esconda atrás de uma crosta que não remete claramente a Jesus de Nazaré. Em todo o caso, a passagem de “Deus” sempre será mistério inescrutável, e só na ponta dos pés e com máximo respeito a todos os seres humanos podemos falar sobre isso. Mas com todas estas cautelas algo se pode dizer. Mencionaremos as realidades dos fiéis e suas comunidades, mas temos em mente sobretudo as instâncias, altas em hierarquia, historicamente muito responsáveis pelo que acontece, e às quais não se pode pedir conta com eficácia. Com simplicidade dou minha visão pessoal.
De diversas formas abunda o pentecostalismo, como forma de Igreja diferente dos problemas reais de vida e morte das maiorias, embora traga coragem e consolo aos pobres, o que não é desdenhar quando não têm onde se agarrar para que sua vida tenha sentido – diferente é a situação de classes mais acomodadas. Prolifera um grande número de movimentos, dezenas deles, proliferam os meios de comunicação das Igrejas, emissoras de rádio e televisão, excessivamente submissos a ideais e normas que provêm de cúrias, sem dar sensação de liberdade para tomar eles mesmos em suas mãos um evangelho que anuncia a boa nova para os pobres, em forma de justiça, e sem suspeitar da necessidade de um estudo, reflexivo, minimamente científico, da Palavra de Deus, e em geral da teologia propiciada pelo Vaticano II e Medellín. Proliferam devoções de todo tipo, as de antes e as de agora. Jesus de Nazaré, que passou fazendo o bem e morreu crucificado, é deixado de lado com facilidade a favor do menino Jesus, seja de Atocha, de Praga, o Deus menino, dito com grande respeito. Com facilidade se dilui o Jesus vigoroso da Galileia, do Jordão, o profeta de denúncias do templo de Jerusalém, a favor de devoções, baseadas em aparições com um transfundo sentimental e excessivamente melífluo. Para dizer com simplicidade, a divina providência pode atrair mais que o Pai de Jesus, o Filho que é Jesus de Nazaré, o Espírito Santo, que é Senhor e doador de vida, e Pai dos pobres, como se canta no hino do Pentecostes.
Em seu conjunto custa hoje encontrar na Igreja a liberdade dos filhos e filhas de Deus, a liberdade diante do poder, que não por ser sagrado deixa de ser poder. Nota-se excessivo servilismo e submissão em relação a tudo o que seja hierarquia, o que chega a se converter em medo paralisante. Desde as instâncias de poder eclesial aponta o triunfalismo, e o que chamei de a pastoral da apoteose, de multidões, midiática. Em muitos seminários a discussão e a arte de pensar são substituídas pela memorização. Nas reuniões do clero, pelo que sabemos, as perguntas, a discussão e o debate são substituídas pelo silêncio. As cartas pastorais dos anos 1970 e 1980 – verdadeiro orgulho das Igrejas, que reverdecem em ocasiões, na Guatemala, por exemplo – são substituídas por breves mensagens, recatadas e comedidas, com argumentos tomados das últimas encíclicas do papa. O centro institucional já não parece estar na América Latina, mas na distante Roma. Tudo isto é dito com respeito.
Como será a passagem de Deus pela América Latina e com quem passará, está por se ver, e em suma é coisa de Deus. Mas é coisa nossa desejá-la, trabalhar para isso, e aprender de como aconteceu no passado em torno de Medellín.
Bom é saber e analisar os vaivens dos adeptos e o influxo das Igrejas na sociedade. Pelo que dizem os dados, em ambas as coisas a Igreja católica vai mal. Mas é preciso ter mais presente as raízes de cuja seiva viveu a passagem de Deus. E regá-la humildemente, com águas vivas.
O que acontecerá à nossa Igreja, e a todas as Igrejas, está por se ver. Meu desejo é que, aconteça o que acontecer no exterior, se coloque a serviço da passagem de Deus por este mundo, o Deus de Jesus, compassivo, profeta e crucificado. E o Deus doador de esperança.
Estas são perguntas que podemos sempre fazer. Mas talvez seja bom fazê-las no começo da quaresma. Este tempo exige de nós fortaleza para caminhar para Jerusalém. E nos oferece esperança de nos encontrar ali com o Jesus crucificado e ressuscitado.

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Repensar... Recuperar...

Uma breve reflexão sobre a fala de Andrés Torres Queiruga em Evento Acadêmico celebrando os 25 anos da ESTEFCom estes dois verbos, Andrés Torres Queiruga proporcionou uma frutuosa reflexão teológica para a comunidade acadêmica ESTEF no evento comemorativo dos seus 25 anos.

Repensar tudo, eis a proposta... Repensar a Criação, a Ressurreição, a Reve-lação, a Teologia e, sobretudo, a nossa vida de cristãos e cristãs no século XXI. Re-pensar não para romper, mas para recuperar a essencialidade da mensagem evan-gélica para os tempos atuais.

Se for verdade que para muitos “pensar dói”, repensar torna-se tarefa ainda mais penosa, ainda que urgente, porque significa trabalhar sobre algo já pensado e muitas vezes estabelecido como “verdade absoluta” e, junto disso, desvendar os desdobramentos que muitas vezes damos a esta verdade.

Pessoalmente, vejo como maior desafio, recuperar a imagem de Deus. Quem é mesmo Deus? Deus é muito mais do que “um espírito puro criador do céu e da ter-ra”, ou ainda o Deus “altíssimo e poderoso”, proclamado com tanta ênfase em nos-sas liturgias, ou ainda pior, alguém que tem de ser o chefe, ter o mando. Poder, au-toridade, comando, qualidades atribuídas comumente a Deus não são as mais im-portantes; pelo contrário, a relação servo-senhor é expressamente criticada, pois, ao longo da história, serviu para justificar o domínio de umas pessoas sobre as outras, sobretudo, o domínio dos homens sobre as mulheres. A fé em Deus deveria desper-tar um sentimento de ser um com o todo, um sentimento de solidariedade, não de submissão. Pessoas deveriam adorar a Deus não por causa do seu poder e/ou do-mínio, mas por descobrirem o seu amor. Algumas pessoas preferem manter uma imagem infantil de Deus para não ter que assumir suas responsabilidades como fi-lhos e filhas de um Deus que em sua essência é amor, preferem, então, ser telegui-ados a tornar-se amig@s de Deus. Continuar submiss@s e dependentes parece, de certa forma, mais confortável... A pergunta que me faço é: por quê? Por que não as-sumir o Deus que em Jesus se mostra salvação incondicional, que quer homens e mulheres livres e autônomos, realizados em sua frágil humanidade? Deus está pre-sente em nossa vida unicamente como salvador/libertador. Deus não nos criou ape-nas para que o sirvamos. Ele não teria “servidores”. Deus não nos fez somente para sua glória. Deus é perfeito, não pediria algo assim para seus filhos e filhas. Deus nos fez unicamente para nos dar gratuitamente a realização plena, a felicidade. Deus AMA (Cf. 1Jo – Deus é amor). Deus consiste em estar amando.

Tal Verdade, e esta sim com “V” maiúsculo, pode nos incomodar, porque res-ponder livremente ao amor é tarefa sempre mais exigente. É mais fácil obedecer a regras e mandamentos, do que nos desacomodarmos e empenhar-nos para fazer brilhar a luz de Deus-Amor, dando-lhe a única Glória que lhe interessa: colaborar com o seu projeto de amor, assumir a causa do Reino, contribuir para um mundo mais justo e fraterno onde todas as pessoas, independente de raça, credo, etnia, opção sexual vivam digna e plenamente. Ajudar a humanidade a ser mais feliz com gestos concretos de amor, eis a vontade do Deus-amor. “A glória de Deus é que os seres humanos vivam.”

Um desdobramento interessante nesta perspectiva é que tudo o que eu faço é santo e tem valor, aqui eu sou o que faço e faço porque sou, não há a dicotomia entre ser e fazer. Toda construção de identidades está intimamente vinculada com as ações, com as práticas, que sempre se dão no tempo, são históricas. Deus que nos cria para o amor, para a felicidade, nos cria inteir@s. Nessa dinâmica, é tão santo comer como rezar ou participar de uma caminhada pela terra, pela ética na política, pela questão indígena, ecológica, pelo movimento de mulheres, homossexuais... enfim, tudo o que fazemos é santo se estamos integrados no dinamismo de Deus. É obvio que isso não quer dizer que tudo tem o mesmo valor, pois é diferente dizer “esta pessoa vive para comer” e dizer “esta pessoa vive para a justiça”. No entanto, a verdade inquestionável é: “quanto mais humanos, mais divinos!”

Acolher tal perspectiva é tornar-nos mais adultos na fé, libert@s e libertad@res. É acreditar que Deus cria o mundo com amor, está conosco e continua contando conosco para atuar com Ele contra as injustiças, continua contando com cada um/uma para diminuir o mal no mundo. Não podemos vencer completamente o mal, mas podemos dar passos na redução do mal, podemos fazer muito para aliviar o sofrimento.“Doar um copo de água por amor, é pouca coisa, mas doado no Senhor, o pouco de muitos se transforma em abundância e junt@s irradiaremos esperança.” (cf. Mt 10,42; Mc 9,41) E ainda Jesus em Mt 25: “Os justos perguntarão: Quando foi que Te vimos...?” Ele responderá: Quando lutaram contra o mal. Único mandamento: Amar a Deus e ao próximo. Amar será hoje e sempre lutar contra o mal fazendo o bem para todas as pessoas.

Liberdade, coragem e valentia são critérios necessários para recuperar a ver-dadeira imagem de Deus. O Deus Pai/Mãe Criador, em Jesus Cristo salvador e re-dentor, e no Espírito vivificador, fonte de vida, de comunhão e de ternura eterna. O Deus Trindade que nos dá a esperança de que a morte e o mal não têm a última pa-lavra na história, e sim que a última palavra é a vida, o amor, a fé no Deus da vida. Tal postura de fé nos possibilitará repensar conceitos e adequá-los criativamente ao nosso tempo.

domingo, 27 de novembro de 2011

Ricos têm renda 39 vezes maior que a dos mais pobres

Um brasileiro que está na faixa mais pobre da população teria de guardar tudo o que ganha durante três anos e três meses para chegar à renda mensal de um integrante do grupo mais rico. Embora as pesquisas apontem quedas sucessivas na desigualdade de renda no País, dados do Censo 2010 divulgados ontem pelo IBGE mostram que os 10% mais ricos têm renda média mensal 39 vezes maior do que os 10% mais pobres. Os dados valem para a população de 101,8 milhões de habitantes com 10 anos ou mais que têm algum tipo de rendimento.A reportagem é de Luciana Nunes Leal e Felipe Werneck e publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 17-11-2011.A renda média desses moradores é de R$ 1.202 mensais. Os 10% mais pobres recebem em média R$ 137,06. Os mais ricos, R$ 5.345,22. A parcela do 1% mais rico chega a R$ 16.560, 92 mensais, em média.Levando em conta os habitantes de todas as idades, o IBGE calculou a renda média mensal de R$ 668 mensais. Metade da população, no entanto, recebia até R$ 375 mensais, no período em que o salário mínimo era de R$ 510 (a data de referência do Censo é julho de 2010).A renda na população feminina é equivalente a 70% da média mensal masculina. Na população de 10 anos ou mais que tem algum tipo de renda, a média das mulheres é de R$ 983,36 mensais e dos homens, R$ 1.293,69.A distância entre as raças é ainda maior. Os negros têm renda mensal equivalente a 54% da média dos brancos. A população de origem asiática, classificada no Censo como amarela, é a que tem a renda média mais alta, de R$ 1.572,08 mensais.Entre os negros, a renda média mensal era, em 2010, de R$ 833,21 e a dos brancos chegava a R$ 1.535,94. A parcela dos 10% mais pobres entre os negros tem renda mensal de apenas R$ 120,05, mais de 57 vezes menor que os 10% mais ricos entre os brancos, que têm renda de R$ 6.919,46. Ou seja, o negro mais pobre teria de guardar toda a renda por quatro anos e nove meses para chegar a um mês de rendimento do branco. "Houve um movimento de redução da desigualdade nos últimos anos, mas daí a indicar um cenário mais róseo para o futuro há uma longa distância. Durante muito tempo se pensou que o mero desenvolvimento econômico faria a desigualdade desaparecer. Não aconteceu. Agora se pensa que as políticas como o Bolsa Família vão acabar com a desigualdade. Não vão. O que vai diminuir são políticas de promoção da igualdade racial, a ação afirmativa no acesso às universidades, ao mercado de trabalho", diz o pesquisador Marcelo Paixão, da UFRJ, estudioso das desigualdades raciais.ReduçãoAs pesquisas por amostras de domicílio vêm mostrando ano a ano a redução do índice de Gini, que mede a desigualdade. Os números mais recentes, no entanto, evidenciam a distância entre os Brasis: o mais rico, alfabetizado, com acesso a serviços básicos, concentrados em grandes centros urbanos e de maioria branca e o mais pobre, com baixa escolaridade, domicílios precários, especialmente na área rural e de população negra ou parda.Na população de 10 anos ou mais de idade com renda, o índice de Gini ficou em 0,526 (quando mais perto de zero, menor a concentração de renda e quanto mais próximo de um, maior a desigualdade). O Distrito Federal tem a maior desigualdade entre os Estados, com índice de 0,591.A renda média da população é de R$ 2.461 mensais. Os 50% mais pobres, porém, detêm apenas 12,3% do total de rendimentos. Os índices de analfabetismo são um dos indicadores com as diferenças mais gritantes entre ricos e pobres, apesar dos bons resultados da redução dos índices nacionais.